Num dos últimos dias de Setembro, casualmente, encontrei-me com um amigo emigrado há anos no estrangeiro mas que só agora teve ocasião de vir de visita à terra onde nasceu e onde foi criado.
No decorrer da conversa foi ele dizendo das suas impressões da ilha, algo diferente, na verdade, daquela que aqui deixou quando partiu.
Está muito diferente e a Madalena e Cais estão muito diferentes e embelezadas, só a Vila (e a vila para ele era ainda a Vila das Lajes) é que não progrediu. Ouvi e dei-lhe as explicações que me foi possível “arquitectar” no momento. E uma delas foi a ausência da nossa juventude, o que, na realidade é um facto incontroverso, o que prova, em certa medida, a diminuição da população.
Ainda há dias, os órgãos de Comunicação Social fizeram-se eco dos elementos fornecidos pelos Instituto Nacional de Estatística, pelos quais se pode verificar que o concelho das Lajes sofreu uma diminuição de população superior a quatrocentos habitantes. E a grande ou quase total maioria foi de jovens. Hoje a vila das Lajes conta com uma população de terceira idade e uma grande parte são viúvos/as que vivem isoladamente nas suas habitações. E já não aludo às duas ou três dezenas que vivem nos Lares da 3ª idade.
Mas o despovoamento tem ainda outras causas bem mais concretas. A renovação urbana tem sido nula. Até os próprios lajenses, quando pretendem construir novas habitações, vão para a periferia: Ribeira do Meio, Almagreira e até Silveira. Não me consta que algum construa nas Terras. Nesse lugar são os próprios residentes que plausivelmente, vão melhorando as antigas habitações ou construindo novas. Mas, louvores merecem por isso, não abandonam o seu lugar!
E o investimento público tem sido bastante parco. Fogem da vila. Outros povos teriam orgulho na sua terra, na sua história, nos valores patrimoniais que a vila ainda possui. Os lajenses e aqueles que têm presidido aos destinos da sua terra, viram as costas a tudo isso, com receio que sejam apodados de só olharem para a vila. E, talvez com esse receio, nada fazem. Os serviços públicos vão sendo transferidos para outros meios. E aí construem os gestores modernos e elegantes edifícios para os instalar. E os poucos edifícios que aqui ocupavam, nem são cedidos, quando requisitados por quaisquer instituições, nem vendidos quando há pretendente e vão caindo em degradação.
E se há lajenses que aceitam de bom grado o “status quo”, outros, felizmente, ainda sabem levantar a voz e reclamar contra tamanhos atropelos, como cidadãos que são no pleno direito da sua cidadania.
Podem alegar os dirigentes políticos que construíram um pontão para defesa da vila. Concedo. Mas quando se procede à regularização dos blocos, a caírem, uns para o mar outros para a terra?!...
E a extracção das baixas da lagoa que da execução desse molhe nasceu mas que não é totalmente navegável, obrigando à colocação de sinalização para evitar o arrombamento das embarcações que demandam o porto? Aplaudi a obra mas nunca a forma como se encontra.
Penalizou-me a apreciação do nosso conterrâneo emigrante. Espero que o mesmo aconteça a quem ler, se é que o vai fazer.
Louvo o bairrismo dos residentes das outras vilas, mas não deixo (porque não posso deixar) de acusar os que possam ter responsabilidades no decaimento da primeira povoação que vila sempre foi, da ilha.
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